quarta-feira, 23 de março de 2011

Carta de Outono III


Um coração se atirou no vazio.
Que horas eram?
Alguma testemunha?
Veja as lâmpadas amarelas acesas.
E o coração caiu colhendo luzes de todas as janelas descortinadas.
Caiu orvalhado. Se chocou entre marquises e sacadas.
Alado se desviou dos jardins avançados de concreto.
Buscou esse coração um vôo reto, alucinado.
E ao cair assim apaixonado
apagou velas, interrompeu banhos
flagrando beijos desesperados.
E ao cair assim abandonado,
flutuou entre perfumes e fumaças
entre temperos marinados de uma ceia interrompida.
Vertiginoso vôo livre irresponsável!
Que horas eram?
A quem pertence esse coração?

PS. Fiquei entre a cruz e a sacada. E ele disparou descompassado. Aceitou os pregos e festejou a queda.


Ou: Carta de Outono III

(Suzana)

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