sábado, 26 de março de 2011

Por falar em amor



Nada se obriga ao amor. O amor é livre para decidir entrar em nossas vidas e depois arrumar as malas e partir. Numa manhã qualquer. Com ou sem motivo. E nós também somos livres para permitir que o amor entre em nossas vidas ainda que saibamos disso. Não devemos nos ater às promessas e planos feitos durante a permanência do amor em nossas vidas. Tudo é tão vago! Tudo é tão improvável. Tudo é tão frágil. O amor é imprevisível. Nada se obriga ao amor. De fato não há lei alguma que o obrigue a nada. Essa impermanência, essa primordial isenção, essa condicional, talvez esteja na própria alma do amor. Devemos, pois, apenas, saber hospedar o amor enquanto o amor estiver caminhando em nossas vidas. Sabendo que a qualquer momento ele fará as malas, e será inútil tentarmos esconder as chaves da porta. O amor se rebelará e nos enfrentará com suas garras e o seu olhar vermelho. O amor quando se sente aprisionado revela-se reverso.
Nada se obriga ao amor. O amor não suporta sentir-se emoldurado na parede. Talvez a eternidade do amor seja inerente ao próprio amor. Apenas. Senhor de sua própria trajetória o amor corteja a liberdade. Retê-lo além da hora é semear vazios. Ou ir à sua contramão. O amor se perseguido provocará uma colisão dolorosa. E se mostrará cruel. Sendo assim devemos entender que o amor não se compromissa e não se perpetua além de si, e do tempo em que é. Saber hospedar o amor com liberdade. Manter as portas destravadas. Festejar e agradecer sua presença. Nos render à sua mobilidade. Entender sua transitoriedade e independência. Aceitar sua imprevisibilidade. Saber recolher os frutos de sua passagem. Guardar as sementes. Esperar a chuva. Arar. Proteger o broto. E colher outra paisagem. Renovada. Inédita. Porque ao amor não se obriga nada.
 Ou: Por falar em amor
(Suzana)




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