quarta-feira, 23 de março de 2011

Fragmentos de Delírios




Ela não consegue sequer defender dignamente uma mentira!
Troca os dados, perde o fio, se embrulha em papéis.
Não sabe re-imprimir sequer uma mentira-em-xerox...
Que seja sei lá... uma mentira-cópia-de-mentira.
Que tenha cara, que tenha texto.
Ela se esquece de tecer a costura-segura que sustentaria a trama-original.
Então, não raramente, ela se vê nua.
Ela se acostumou a inventar cenas.
Mas nessas cenas, tudo é sempre, eternamente, inverossímil.
Sempre tremendamente ficcional.
Então, ela se angustia por criar histórias sem contornos e limites.
Ela não tem limites.
Ela está sempre procurando detalhes que, evidentemente, lhe escapam.
Porque o seu centro é o todo-tudo.
É visível como ela gasta o tempo nos espelhos procurando um rosto.
Que lhe atenue talvez o torpor, que lhe assegure talvez que uma imagem há!
Então desesperadamente ela se agarra aflita ao que vê,
e suspende por horas o seu horror.
E se retoca apressadamente.
Ela existe confusamente dividida entre o que queria ser e o ser-que-é.
Mas ela sempre estaciona no retorno do nada-ser, e do ser-absoluto.
Por isso não admite perguntas.
Ela não tem respostas.
Ela produz incansavelmente alegorias.
Fala por metáforas.
Ela não é clara mensagem.
É uma charada.
É incrível como ela se extenua tentando manter seu elmo indestrutível nos embates ferozes que trava com seus velhos-inimigos-ocultos.
Frutos gerados na sala de espera do sempre-nunca.
Ela jamais os elimina. Apenas os adormece até a manhã seguinte.
E os acorda nos primeiros raios que invadem as frestas de sua janela.
Então, ela recomeça o enredo, reacende o embate.
Que nunca tem fim.
Round x Round.
Uma ladainha em iídiche.
Old script.
Vieux scenário.
Ela e o seu palco.
Kabuki de si toda."

(Suzana)

Nenhum comentário:

Postar um comentário