quarta-feira, 23 de março de 2011

Telhados vivos



O dia se esboça na paleta do tempo. E é todo gris. Debruço na janela e observo os telhados úmidos das casas. Já os conheço. Um deles pende tocando uma árvore de copa arredondada de fruta que não sei. Outro se junta a um alpendre de telhas frescas sustentado por madeiras azuis. Mais adiante, na esquina da rua, existe o qual chamo de ancião. São visíveis as rugas nos beirais. E ele as expõe com a honra própria dos telhados seguros. São muitos. De várias e muitas águas. Limpos me parecem renovados. Alinhados, percebo a simetria. A elegância antiga, a simplicidade eterna. Vendo-os do alto é inútil deter a idéia de que dialogam. Invento sussurros sobre os muros. Imagino segredos trocados entre os portões. Invento conversa de compadres. Empresto palavras aos telhados. Empresto invernos, ventos de abril, empresto os raios de dezembro e luzes de natal. Imagino que alguns hospedam ninhos. Outros suportam parabólicas sem curvar. Nenhum de vidro.


Ou... "Telhados vivos"

(Suzana)

Nenhum comentário:

Postar um comentário