quarta-feira, 23 de março de 2011

Mama Mia



Então ela disse: Ah maravilhosa vida que consigo gestar por amar viver!
E contou-me que costurando noites de infinitos tecidos,
foi reinventando modas e aromas,
e reacendendo a chama das sensações primeiras.
Contou-me que do pai, um vênito artesão que trabalhava o couro em selas e chapéus, herdou o sonho dos canais do mar que o trouxeram um dia aos canaviais.
Da mãe, tecelã de mantos e crianças, herdou coragem e alegria,
e a euforia própria dos donos da esperança.
Viveu a infância dos felizes, entre o fogo da madeira, colheitas e histórias de Veneza. Depois, crescida, conheceu outros caminhos além de uma porteira
e moça, descobriu que a vida se refaz na inevitabilidade do tempo e do destino.
Por isso, por compreender as obviedades simples e inelutáveis,
nunca se desesperou.
E que quando acordava e dizia: Basta!! Gôndolas ao mar!
o sol de algum modo, aparecia...
Que os seus amores sempre a consumiram,
e assim foram intensos, totais, e nada passageiros.
Contou-me que voou ao limite da teia,
mas como boa abelha sempre retornou ao favo inteira.
Disse que jamais sofreu além da quarentena,
porque embora existissem as novenas,
sempre tropeçava no vidro de alfazema e perfumada,
reinventava a cena.
Casou-se com o amor de sua vida e partilhou com ele os seus melhores anos,
teve seus filhos e os criou de tal maneira, que são como passarinhos soltos que retornam sempre ao imutável ninho porque sentem saudade do carinho.
Muito me ensinou e sempre ensina, rio demais com ela e sempre rio a toa.
Aprendo eternamente o seu refrão,
refaço diariamente sua lição
- a vida é um presente que se desembrulha com o coração.

Ou... "Ela é minha mãe"

(Suzana)


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