quinta-feira, 24 de março de 2011

Degraus


Ela sabia que rever os passos traria degraus.
Primeiro se despojar do pulôver pesado que reveste o tempo,
e colocar nos pés um combustível aditivado de lhe desse uma energia parecida talvez com aquela que um dia lhe levara a subir a serra de Caxambu.
Naquele julho estrelado, sabe?
Na espera de discos voadores.
Porque não?
Estampada na neblina da serra de Caxambu.
Mochila, Kodak, bolacha, nariz vermelho, gorro de lã.
Mas nesse tempo tinha conversa de grilo,
bromélia do mato, comunhão de olhares.
Estrofes de alegria acordando ninhos,
acariciando pedras, espantando névoas,
sacudindo orvalhos,
abraços do corpo no corpo do vento.
Alguma coisa parecida, talvez, com sonho.
Insensatez, diria o coro grego.
Dessa vez, contudo, o íngreme da escalada traria degraus.
E degraus sem flores, nem luar.
Aliás, que fique claro, apenas falo que ela enfrentaria degraus.
Reveria degraus e seus tropeços.
Os Caxambus da vida tem seus preços.
Ontem pela tarde ela me disse que está pronta.
E que faria tudo de novo.

(Suzana)

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