sábado, 26 de março de 2011

Dieta da voz

Não quero o discurso vaidoso e intratável. Emprestado dos livros, saqueado da luz alheia. Ou fraudulento. Aquele pirateado. Desavergonhadamente subtraído. Não quero o discurso comprometido e atormentado dos teóricos, com referências no rodapé das frases, com bibliografias amontoadas sobre o raciocínio, onde o pensamento se agarra como bóia, ou craca em navio. Também descarto o discurso embalado em filosofias de botequim, que pulsa o desconexo de dentro, desembala o convexo, e se perde sem destino e fim. Uma espiral de intermináveis alusões. Roubo de tempo e energia preciosos. O diálogo ideal do homem é com a natureza. E a tradução do pensamento, se faz pelo desenho e escrita, pela música e pintura.
A arte do pensamento em palavra se reinventa há milênios, e está perpetuada nas paredes das cavernas e nas tábuas dos povos antigos, nos papiros egípcios: palavra eternamente cinzelada. Incontáveis horas dedicadas à construção das vias do entendimento. Portanto, ao discurso entrecortado de reticências vazias, espetáculo de mesmices que mascara o monólogo da vaidade, me atrai antes uma joaninha conversando com uma samambaia... um passarinho no trabalho do graveto no pau a pique do ninho... o som do vento numa noite de outono. Portanto, escolho o silencio.
Ou... “Dieta da voz”
(Suzana)

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