quarta-feira, 23 de março de 2011

Decurso amoroso

























Fazia questão da sapatilha (de ponta dura)
Seu corpo falava
com passos de clássica estrutura
na língua do pé
E eu no pas-de-deux
partner palavreada
desenhava versos
rezava mantras
sílfide asfixiada


Ou... ”Decurso amoroso”


(Suzana)

“O Sujeito percebe repentinamente que encerra o objeto amado numa rede de tiranias: sente que passa de digno de pena a monstruoso.” “O discurso amoroso sufoca o outro, que não encontra nenhum espaço para sua própria palavra sob esse dizer maciço. Não que eu o impeça de falar; mas sei brincar com os pronomes: “Eu falo e você me escuta, logo nós somos” (Ponge). Às vezes, com terror, tomo consciência dessa inversão: eu que me acreditava puro sujeito (sujeito sujeitado: frágil, delicado, digno de pena) vejo-me mudado em coisa obtusa, que avança cegamente, esmaga tudo sob o seu discurso; eu que amo, sou indesejável, posto na lista dos importunos: aqueles que pesam, incomodam, prendem, complicam, exigem, intimidam (ou mais simplesmente: aqueles que falam). (Barthes)

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