sexta-feira, 25 de março de 2011

Filme










Minha história passa por pontes paradas no ar. Por noites de passos polares, por ganchos de redes, por mares bravios. Passa pela bruta tempestade que desvia os bons navios. Minha história passa. Passa por ladeiras e segredos, bonecas e medos, por esconderijo no porão. Passa pela clara suspeita de que eu enfrentaria os rios. Passa pelo livro proibido, passa pelo olhar indefinido que passa pela pergunta estacionada na garganta e se reflete no espantado rosto da resposta. Passa pela fuga, passa pela prece da primeira confissão que passa pelo azul de abril. Minha história passa. Passa pelo ranço tribal que valida e amordaça que passa pelo rito repetido que consolida a imagem do equívoco. Passa por mesas de domingo, passa por teatro e por famílias, passa pela sólida costura que preserva o elo das matilhas.
Passa por encruzilhadas e vazios, passa por mandalas e velas, por trevos e margaridas desfeitas. Passa pelo bem me quer, passa pelo mal querer. Passa por luzes em sacadas, por amores sem nome que passam por abandonos sem aviso e estações. Minha história passa por eixos suspensos no ar. Por trechos em trens, por velhos vagões que passam por trilhos descobertos no susto do anoitecer. Passa pelo traço concebido pela matriz e passa pela notícia que contradiz. Passa pelo disfarce, passa pela desculpa, passa pela promessa que passa pela coragem de não permitir que nada passe sem memória em mim.
Ou... Filme
(Suzana)

Nenhum comentário:

Postar um comentário