quinta-feira, 24 de março de 2011

Camerata urbana





Amanheceu como o pássaro que mora no apartamento ao lado.
Aquele que dentro da gaiola pendurada na sacada gosta das manhãs nubladas.
Aquele que parece não se importar por não voar.
E que canta apaixonadamente. Aprisionado.
Num instante, uma camerata de canários, curiós, pintassilgos e bem-te-vis, (cantores de gaiola...) se espalha nos andares.
Barítonos, sopranos, contraltos.
Tenores urbanos. .
Violeta e Alfredo na traviatta.
Tristão e Isolda sob penas na mágica poção dos seus cantares.
Olhou a rua e percebeu o asfalto garoado ausente de passos.
Apenas uma bicicleta soava lentamente pela ladeira em direção ao bosque.
No último dia do ano ela despiu pesares.
Aqueles que pesam por serem íntimos e vão miúdos nos calares.
Enxugou os olhos na vidraça do tempo e prometeu-se uma Falstaff gaivota...
Quando voltou o olhar o sol cantava.
Libertado.

Ou “Camerata urbana”

(Suzana)

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