quarta-feira, 23 de março de 2011

O papel da história



Pessoas passam pela tua vida escrevendo histórias.
Páginas viradas te assustam quando por descuido folheias um trecho do sumário.
As tintas potentes ferem o papel.
Em letras garrafais e enredos fatais.
Com o tempo se diluem porque urge que as apague,
caminhes e te abras a novos enredos.
Ficam na tua memória como um deslize de roteiro
- Imagine um kamikaze aterrizando num jantar à luz de velas!?
Outras são folhetos de cordel.
Te presenteiam a oralidade das façanhas penduradas nas cordas do cotidiano.
Te convidam ao matuto olhar aquecido em lenha sob o luar.
Se apagam cumprida a cantoria, e continuam tecendo estrofes nas páginas do dia.
Histórias de romance ganham muitas linhas.
Insônias e agonia.
Te trazem o desnorteio temporal em cenas alternadas:
te empurram do passado ao futuro e desse ao presente.
Como no cinema.
Acompanhas entre distraída e apaixonada na sala escura reservada aos teus dilemas.
Se esgotam na fartura das imagens, na mesmice das linguagens,
ou num pesadelo non-sense de mudez total.
Histórias eternamente projetadas na sessão dominical.
Outras são curtas como os contos:
se escrevem com precisão, se apagam com emoção.
Em folhas de papel couchê. Repletas de clichês.
As de ficção são inventadas páginas sobrenaturais
que desafiam teus arsenais mentais
e evaporam quando decifras a capa dos sinais.
Passeiam na tua memória em orelhas encantadas.
De crepom.
E há histórias cara amiga, que são poemas...

Ou... "O papel da história"

(Suzana)

O verso da foto é da poeta Ana Cristina Cesar.

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