quinta-feira, 24 de março de 2011

Mercado



É sempre dolorido descobrir claramente o quanto nos iludimos quando estamos apaixonados e atuando na "peça" da conquista do Amor. Montamos um cenário perfeito onde não existem dúvidas. Valorizamos um olhar... iluminamos um gesto... um silêncio... alimentamos as esperanças mais vazias... justificamos as ausências... exercitamos uma compreensão ilimitada... nos cegamos aos sinais mais evidentes, colocamos nossa capacidade analítica no lixo! Não podemos ver! Não queremos acreditar que "ali" não há amor! É demais devastador para nós concluir que "ali" pode haver qualquer outra coisa! Menos o Amor. É evidente que no fundo de nós captamos que "algo não está no lugar certo”... Que aquelas cenas não batem com o script ideal... que a história não está caminhando bem... e mesmo assim insistimos. De vez em quando temos a absoluta certeza, de vez em quando chegamos a duvidar de nossas percepções. É muito difícil, sempre, concluir que nossos investimentos emocionais e amorosos foram de alto risco e que nos vemos agora á beira de uma falência fabulosa. O judaísmo traça uma interessante paralela sobre as relações humanas e o Mercado. Sugere que as relações humanas devem (deveriam) se pautar pelas leis de mercado, entendendo o amor como "valor de troca" entre os seres. A visão de que "um bom negócio" deve contemplar (necessariamente) aos interessados de forma equitativa, nos encaminha ao conceito da justiça. O judaísmo não entende o amor sem justiça! Vivemos operacionalizando maus negócios! Atuamos contra a nossa própria carteira emocional. Vez ou outra somos literalmente saqueados, damos a chave do cofre ao bandido, cartão e senha. E não há Procon que resolva a questão porque a legislação nesse caso é de ordem absolutamente pessoal, interna e intransferível. E também porque ninguém costuma exigir nota promissória, cheque pré-datado para assegurar o retorno desse tipo de investimento. Na verdade aguardamos apenas que o investimento retorne naturalmente, sem complicações e assim podermos re-investir indefinidamente se possível com lucros e dividendos. Para não falar em bônus. O judaísmo sugere que ao caminharmos no "mercado" deveríamos ter absolutamente claro o que buscamos. Ninguém deveria ir ás compras sem saber exatamente o que deseja! Na hipótese de fecharmos qualquer "negócio" teríamos que analisar com certos critérios o nosso parceiro-sócio. Existem critérios absolutamente inquestionáveis. O primeiro deles é a expectativa que ambos possuem diante de um "futuro empreendimento". Essa expectativa (convenhamos) é fundamental, caso contrário alguém estará fazendo um mau negócio. Ou um negócio muito arriscado. E depois não vai adiantar dizer que não teve sorte. Importante um contrato! Transparente, detalhado, com cláusulas consensuadas. Grande parte de "negócios" mal sucedidos deve-se a ausência de um acordo explícito onde cada um "exista" personalizado... E, claro, deveríamos acompanhar atentamente o seu cumprimento. Porque não vai ter fórum competente para dirimir qualquer dúvida. Não se formaram advogados especializados para atuar nesse tipo de contenda. Quando a gente entra no Mercado das relações humanas o risco de ter sucesso ou de ter fracasso depende, portanto, de certo racionalismo. A não ser que se goste (por alguma razão extremamente pessoal) de investir em fundos perdidos. E o pior é que nesse fundo-perdido perdemos "o fundo de nós". perdemos tempo, esperança, alegria e vitalidade. Às vezes fica difícil voltar ao Mercado. Alguns de nós desiste eternamente de investir, outros gastam o resto de seus dias lamentando "as moedas" perdidas, outros então passam a atuar no Mercado de forma irresponsável. Poluem a oportunidade de relações saudáveis, enganam investidores ingênuos, fazem "lavagem" de emoções. Um desastre ético-ecológico.

(Suzana)


Esse texto pretende ser lido sob o olhar da metáfora, o Mercado é a "vida", os negócios são as "relações", os contratos são as "intenções".

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