sábado, 26 de março de 2011

Partitura

"Atada em cordas de um instrumento invisível ressôo saudade. Caminho por acordes imprevistos. Deslizo em ecos transbordantes de risos. Reescrevo partituras de desejos. Para em seguida recompor teus beijos. Saio à cata de notas transversais.”
Desenhar poemas não tem a força de viver poemas. A alquimia de transformar pessoa em poesia inexiste. No teu caso. Porque as palavras nascem velhas diante da sempre nova e exata alegria. E desacatam a rima antes que se exprima. Polir o verso ao brilho da vida que acontece é salto de acrobata. Um golpe de esgrima. Porque a sensação retida é abstrata. E antes que esse verso salte e retrate a tua graça, já se mesclou em outro que a relata. E assim numa caçada a versar momentos vivos a aprendiz poetisa se curva e se descarta. Arrebatada. Traduzir o riso que surge entre os teus olhos? Teu sono aquietado? E o teu pensar profundo? Tua temperatura grata. Essa marcha libertária. E essa sonoridade da tua gargalhada. Que verso posso que seja afiançável? E que fiel revele o teu retrato.
Onde busco rimas? Onde capturo uma palavra que componha a tua realeza? Arrisco um tema, mas ele se intimida engolido pelo turbilhão da tua presença. Sou persistente e corro atrás dos teus silêncios. Neles me defronto com paisagens sempre intensas, caminhos esculpidos em roteiros transmutados, vôos milimetrados, rasantes calculados. Ressurreição! Como ousar teu intangível? A aprendiz poetisa cala a heroína. E troca a pena pelo olhar.

(Suzana)


Nenhum comentário:

Postar um comentário